Mural de Memórias - Ponta do Sol - Escultora Patrícia Sumares

Patrícia Sumares apresenta-nos um mural escultórico de grandes dimensões, composto por mais de três mil rostos realizados a partir de duzentos e cinquenta moldes recolhidos não só junto da população do município da Ponta do Sol, mas também entre turistas e pessoas que mostraram interesse em participar no projeto. Para esse efeito a artista tem vindo a realizar os moldes dos rostos no seu ateliê, ao longo deste último ano entre as duas edições do festival Aqui Acolá, captando a essência de cada fisionomia e convocando o público a participar ativamente no seu trabalho. O espetador tem assumido um papel de co-criador, na medida em que participa na conceção da obra, emprestando o seu rosto, tornando-se uma parte viva do próprio painel. Mais do que meros rostos, são expressões e sentimentos de uma comunidade, são histórias de vida e memórias coletivas. São paisagens humanas de esperança que revelam um certo sentido de espiritualidade e de união cívica.

O rosto e as questões simbólicas que lhe estão subjacentes têm sido um tema recorrente no trabalho de Patrícia Sumares, através de instalações escultóricas que propõem um olhar filosófico sobre a vida, a perenidade, a esperança e a memória. A subtileza e poesia do seu discurso visual tem vindo a caracterizar a sua abordagem à escultura, criando peças que funcionam enquanto metáfora da condição humana.

Ao contrário das obras artísticas mais convencionais que caracterizam boa parte da arte pública instalada na Madeira, a artista propõe uma intervenção artística de caráter comunitário, uma vez que convoca uma parte dos cidadãos para “darem a cara” pelo projeto. Esta relação de cooperação e parecia criativa insere-se no espírito da arte pública que desenvolve um compromisso social, que valoriza e promove a participação efetiva da sociedade na criação artística. Por outro lado, reflete um esforço no sentido de desmistificar a arte, tornando-a acessível aos cidadãos, já que permite o seu envolvimento direto e a partilha do ato criativo. Entende-se, assim, a arte enquanto catalisador de energias coletivas e desenvolvimento do potencial humano.

Mas não é apenas através dos diferentes rostos que a artista estabelece uma relação específica com o local onde será realizada a intervenção artística. A contrastar com o fundo, surge um conjunto de silhuetas de aves que caracterizam a fauna madeirense. Estas formas espelhadas, com acentuada dinâmica visual, emergem do mural criando diversas possibilidades fruitivas, através da sua forte interação com o espaço circundante. Tal verifica-se quer através do jogo de reflexos que proporciona com a paisagem envolvente, quer por meio da exploração de diferentes efeitos cromáticos derivados da incidência da luz. As superfícies espelhadas não só duplicam a paisagem, criando novas relações espaciais, como distorcem a perceção visual, introduzindo uma nova dimensão no trabalho.

Nesta organização intercalada de formas, observa-se a exploração de valores expressivos de luz e sombra, que funcionam como um verdadeiro estímulo à imaginação do espetador que ali descobre diversas associações simbólicas. Apela também a uma introspeção contemplativa dos transeuntes que observam a obra, proporcionando uma certa identificação coletiva.

José Pedro Regatão

 

Patrícia Sumares presents us with a sculptural mural of large proportions, composed of over three thousand face sculptures. These were created from two hundred and fifty molds of not only local residents of Ponta do Sol, but also tourists and others who showed an interest in taking part in this project. To this end, the artist has been creating the face molds at her atelier over this past year (in between the two editions of the Aqui Acolá festival), capturing the essence of each physiognomy and calling upon the public at large to take an active part in her work. The onlooker takes on the role of co-creator, insofar that they participate in the making of the work, “lending” their face and becoming a living part of the panel itself. But they are more than mere faces; they are the expressions and feelings of a community, its life stories and collective memories. They are human landscapes of hope which reveal a certain sense of spirituality and civic union.

The face and its underlying symbolic issues have been a recurring theme in Patrícia Sumares work, through sculptural installations that propose a philosophical examination of life, the perennial, hope, and memory. The subtlety and poetry of her visual discourse have come to characterize how she approaches the art of sculpture, creating pieces that function as metaphors for the human condition.

Contrary to the more conventional artworks that make up a large part of Madeira’s public art, the artist proposes an artistic intervention with a sense of community, as it calls upon the citizens to “show their faces” for the project. This cooperative relationship and creative partnership is intrinsic to the spirit of a public art that foments a societal commitment to the valorization and promotion of an effective participation of society in the artistic endeavor. The artist’s work also reflects an effort to demystify Art itself, making it accessible to the common citizen, since it allows for their direct involvement in and sharing of the creative act. In this sense, art can be seen as a catalyzer for the collective energy and development of the human potential.

However, it is not merely through the different faces that the artist establishes a specific relationship with the locale where the artistic intervention is to take place. Contrasting with the background, a “flock” of bird silhouettes, characteristic of Madeira’s fauna, appears. These mirrored shapes, imbued with an intense visual dynamic, emerge from the mural creating a diversity of fruitive possibilities, through their forceful interaction with the surrounding space. This is achieved through the interplay of their reflective surfaces with the encompassing landscape, and through exploring different chromatic effects produced by the way the light is focused. The mirrored surfaces not only duplicate the landscape, creating new spatial relations, but also warp the visual perception, introducing another dimension to the work.

In this intercalated organization of shapes, one can observe how the expressive values of light and shadow are wrought so as to truly stimulate the onlookers’ imagination—leading to the discovery of its diverse symbolic associations. It also calls for an introspective contemplation from its onlookers, giving rise to a sort of collective identification.

José Pedro Regatão

Patrícia Sumares: uma instalação a não perder no Centro John Dos Passos

Texto de Luís Rocha In Funchal Notícias - 5 de Maio de 2016

Por entre caixotes carregados de faces elaboradas em cerâmica, as mesmas que se destinavam a ser calcadas e esmagadas pelos próprios pés dos visitantes da primeira exposição ‘tu és pó e ao pó voltarás’, que esteve patente na Reitoria da UMa, no Funchal, encontramos também a oportunidade de contemplar, quase como de uma perspectiva aérea, uma curiosa paisagem, quiçá terrestre, quase lunar, onde, entre as faces humanas desencarnadas e os seus fragmentos, descobrimos uma ‘cratera’, como se ali tivesse embatido um meteorito. As nossas noções de escala e percepção são alteradas, e – pelo menos pessoalmente e tal como na exposição que a esta antecedeu – descubro-me de imediato, e com certa angústia, a perscrutar o interior em busca de interpretações sobre o significado humano algures oculto por detrás desta instalação. _Intuo, sei que no âmago da mesma estão profundas interrogações, irónicas umas, amargas outras, sobre o desprezo que o ser humano sente pelo seu semelhante, e sobre a natureza solitária e por vezes injusta e insignificante da existência.A artista plástica Patrícia Sumares inaugurou ontem no Centro Cultural John Dos Passos uma instalação intitulada ‘tu és pó e ao pó voltarás II’, espécie de ‘remake’, em escala menor, da notável instalação apresentada em finais do ano passado na Reitoria da Universidade da Madeira. Pode-se dizer, sem risco de erro, que nesta instalação Patrícia volta a demonstrar claramente os atributos criativos que fazem dela uma artista provocadora e interessante, com uma visão simultaneamente profunda e tocante nos temas que apresenta e, simultaneamente, um cuidado formal extremo com os aspectos cénicos e, quase diríamos, mesmo dramáticos gerados no enquadramento das peças que produz e da sua expressividade.

A atenção que coloca na mais perfeita adequação possível das obras geradas no seu percurso predominantemente escultórico com o meio ambiente envolvente também é digna de nota. Desta feita, Patrícia Sumares transformou uma pequena sala de exposições do Centro John Dos Passos num verdadeiro abismo, quase um estranho portal dimensional, em que as nossas noções espaciais são curiosamente alteradas pela colocação de dois espelhos, um no tecto, outro no chão, que multiplicam quase ao infinito a própria imagem do fruidor.

Sem grandes pretensões, esta é apenas uma leitura possível desta mostra de Patrícia Sumares. Que vale o que vale, e termina apenas com esta exortação: vale a pena ver e acompanhar o trabalho desta artista madeirense, que para nós e cada vez mais, se tem revelado das mais interessantes.

Ciclo de Conferências reflete sobre o fenómeno da arte contemporânea

Notícia in DN Madeira - 23 de dezembro de 2015

A Universidade da Madeira (UMa), através da Faculdade de Artes e Humanidades (FAH), em colaboração com a EXIT Artistas – Agência de Promoção dos Artistas Plásticos Madeirenses, vai organizar nos dias 21 e 22 de dezembro, no Auditório da Reitoria, ao Colégio dos Jesuítas, o ciclo de conferências sobre “Arte e Poder - Arte Pública”.
Durante dois dias, um prestigiado painel de oradores, composto por Arlete Silva, galerista da Galeria 111; Duarte Encarnação, docente da FAH-UMa; José Pedro Regatão, docente e investigador; Miguel Amado, curador do Middlesbrough Institute of Modern Art; e Vítor Magalhães, docente da FAH-UMa, vai debater temas como ‘Arte Pública em Portugal’, ‘Novas Linguagens Artísticas’, ‘A Arte Pública na Madeira’, ‘Fiçção e poder. Dispositivos trans-narrativos da imagem’, ‘Uma abordagem à Arte Pública em Portugal do monumento perene à efemeridade da arte urbana’ e ‘Arte Útil: de John Ruskin à Viragem Social’.

 

 
Este ciclo é desenvolvido no âmbito do curso de Arte e Multimédia da FAH-UMa e assume-se como oportunidade para uma reflexão e difusão do fenómeno da arte contemporânea junto da comunidade. Tem como destinatários os estudantes de arte, arquitetura, design, cultura e comunicação, artistas e agentes culturais, e os professores de artes visuais, estando a ação acreditada pela DRE para efeitos de progressão na carreira dos professores dos grupos de recrutamento 140, 240 e 600.
A participação é livre mediante inscrição no endereço http://tinyurl.com/arte-e-poder.
Ainda no contexto do ‘Arte e Poder’, será inaugurada no dia 22 de dezembro, às 19h00, no Colégio Jesuítas, a instalação escultórica da artista plástica Patrícia Sumares, com o título: “tu és pó, e pó voltarás”, que estará patente ao público até 15 de fevereiro de 2016.

Patrícia Sumares: arte apontada ao coração

Texto de Luís Rocha in Funchal Notícias - 24 de dezembro de 2015

Enquanto metáfora da sociedade contemporânea, é um trabalho de notável força e pertinência, capaz de ir direito ao coração do fruidor. A instalação da artista plástica madeirense Patrícia Sumares pode ser vista até Fevereiro no Colégio dos Jesuítas, local para o qual foi cuidadosamente pensada e onde o seu enquadramento funciona de modo quase perfeito. É nos antigos corredores daquele vetusto edifício que se pode ver um autêntico ‘tapete’ de fragmentos de cerâmica, representando rostos. Alguns ainda se encontram inteiros, outros foram reduzidos a migalhas pelos pés dos visitantes que inauguraram a mostra, no dia 22 de Dezembro.

A inauguração desta exposição foi o culminar de um programa que incluiu conferências e debates realizados na reitoria da Universidade da Madeira pela agência de promoção de artistas madeirenses ‘Exit Artistas’, de Luís Guilherme de Nóbrega, antigo responsável pela programação expositiva do Centro das Artes Casa das Mudas, hoje convertido em museu de arte contemporânea. Luís Guilherme é o marido de Patrícia Sumares, ela própria ex-responsável pela programação de exposições na Galeria dos Prazeres, e auxiliou-a de muitas maneiras na concepção desta exposição – inclusive partilhando o extenso e interminável labor de modelar as diferentes faces que se destinavam a ser calcadas pelos visitantes da exposição.

Foi um trabalho que durou mais de um ano e cuja intensidade pudemos testemunhar. Um longo percurso para elaborar uma obra artística que celebra, em si mesma, a efemeridade das pessoas e das coisas, e a transitoriedade da própria existência. ‘Tu és pó e ao pó voltarás’ é como se intitula a instalação. E a mesma ‘mexeu’ decididamente com os sentimentos dos que estiveram na ocasião inaugural. Ao contrário de muitas obras contemporâneas, o seu significado é facilmente apreendido por quem a vê, e a mesma contém uma violência à qual é difícil permanecer impassível. Afinal, trata-se de caras de outros seres humanos, aquelas que somos convidados a esmagar com os nossos próprios pés, ao percorrermos o trilho.

A artista põe o dedo na ferida. Numa época fortemente individualista, em que a ambição pessoal se sobrepõe a todos os outros valores, em que a solidariedade é praticamente uma palavra vã, quantos de nós, para alcançar dinheiro, sucesso, reconhecimento, não nos predispomos a calcar sem piedade outros seres humanos para conseguirmos ascender às posições que ambicionamos? Muitos, certamente, que passam nesta quadra natalícia por bons cristãos, não terão a consciência tranquila. E é nela que Patrícia Sumares nos convida a pôr a mão, analisando aquilo a que estamos dispostos, para manter ou sacrificar a nossa integridade.Por outro lado, as relações entre arte e poder dominaram o debate realizado na reitoria da UMa, paralelo à exposição e que, numa acção de formação creditada pela Secretaria Regional da Educação, congregou no auditório múltiplas personalidades madeirenses e continentais do mundo da arte, entre as quais professores universitários, comissários de exposições e galeristas, como José Pedro Regatão, Miguel Amado, Duarte Encarnação, Vítor Magalhães ou Arlete Alves da Silva, entre outros.Como refere Luís Guilherme de Nóbrega num texto alusivo a esta exposição e apresentado numa das paredes do Colégio dos Jesuítas: “A instalação da artista plástica Patrícia Sumares questiona o mundo actual transversalmente com o material que mais gosta de usar numa combinação e diálogo copulativos ao espaço do Colégio dos Jesuítas onde o registo de atividade religiosa, militar e civil complementaram a história deste local. A argila surge da mistura do pó com a água num material por si intimamente relacionado com a escultora e com a sua forma de intervencionar em silêncio como se de uma oração se tratasse, multiplicando-a através da repetição contínua das peças. Fruto de várias experiências vivenciais no percurso da artista, esta nova abordagem, sem divergir da figuração habitual da sua obra, remete-nos para os conflitos étnicos, culturais, económicos e políticos da actualidade e levam-nos a uma descredibilizada forma como a nossa sociedade, em especial a detentora do poder organiza, gere e decide sobre os recursos que legitimamente são de todos nós (…) Nesta instalação a artista coloca o público numa situação de co-criador, o qual é também responsável pela constante mutação estética da obra (…)”.A instalação pode ser visitada, como dissemos, até Fevereiro e até lá estará em permanente transformação. Ao lado do extenso corredor por onde se estende o ‘tapete’ de caras realizadas em argila, Patrícia Sumares preencheu um outro pequeno corredor, mostrando como a instalação se encontrava à partida, quando ainda estava absolutamente intacta. O acto inaugural foi, naturalmente, mais intenso do que serão visitas subsequentes à exposição, embora estas se mostrem indispensáveis até para constatar o processo transformador. Mas foi quando as primeiras caras foram partidas sob os pés dos fruidores que as emoções estiveram ao rubro. E foram devidamente registadas com recurso a vídeo, projectado na própria ocasião. É interessante observá-las. Algumas pessoas fizeram o seu percurso destruidor de uma forma intensa e impiedosa, quase catártica. Finalmente, sentiram a necessidade de desviar-se para o lado, deixando de calcar as faces dos seus semelhantes. Outras iniciaram o percurso pelos lados, para depois finalmente se decidirem a encetar o seu papel activo na transformação da obra, esmagando algumas caras. E não faltou quem procurasse colher os mais diversos instantâneos fotográficos do modo como as caras caídas e estilhaçadas se amontoavam em estranhas combinações, por vezes sinistras, por vezes comoventes. Este foi um trabalho intenso e provocador – como é costume verem-se poucos na cena artística regional. Não é de estranhar que os políticos primassem pela ausência, inclusive aqueles que pertencem a um ‘selecto’ círculo com poderes decisores sobre arte, museologia e, em termos gerais, cultura.Honra seja feita ao presidente da Câmara Municipal da Calheta, Carlos Teles, e ao vice-reitor da UMa, Sílvio Fernandes, que se dignaram estar presentes, constituindo a excepção ao desinteresse oficial. 

Patrícia Sumares inaugura instalação na reitoria da UMa

É já daqui a pouco, às 19 horas, que a artista plástica madeirense Patrícia Sumares, antiga responsável pela coordenação de exposições na Galeria dos Prazeres, inaugura na Reitoria da Universidade da Madeira, ao Colégio dos Jesuítas, no Funchal, a sua instalação ‘Tu és pó, e ao pó voltarás’. Trata-se de uma obra provocadora, que questiona as relações entre arte e poder e aborda a efemeridade da vida humana e da suposta glória conquistada neste mundo. Patrícia Sumares elaborou durante cerca de um ano centenas de caras humanas que, espalhadas pelos corredores e galerias do vetusto edifício situado perto do Largo do Colégio, no Funchal, se destinam a ser destruídas, calcadas pelos pés dos visitantes… que assim transformarão a obra da artista em pó, materializando a metáfora que a mesma pretende que fique suspensa na mente do fruidor. Uma metáfora relacionada, também, com a ambição que caracteriza o ser humano e com a ânsia de obter dominação sobre os outros seres ou um lugar confortável de poder e conquista – mesmo que para tal tenha de passar por cima dos outros.

A inauguração da mostra culmina uma acção de formação que foi creditada pela Secretaria Regional da Educação e que se realizou no auditório da Reitoria da Universidade, congregando figuras gradas do panorama cultural nacional e regional, entre curadores, críticos e académicos da área da artes visuais e da história da arte, e que se prolongou por dois dias.

Este evento cultural terminará hoje, depois da exposição, com um programa social que consiste num jantar na Estalagem da Ponta do Sol. A exposição, essa, ficará sem dúvida na memória de quem a vir – e de quem hoje nela participar.

Debate sobre arte pública na reitoria da UMa antecipa mostra de Patrícia Sumares

Decorre neste momento no auditório da reitoria da Universidade da Madeira uma acção de formação cujo tema é, essencialmente, o da arte pública, antecipando a inauguração, amanhã à tarde, pelas 19 horas, da instalação ‘tu és pó, e ao pó voltarás’, da artista plástica madeirense Patrícia Sumares. A manhã de hoje foi já preenchida com intervenções de José Pedro Regatão, professor da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa e autor de livros sobre a temática da arte pública,  que realizou uma resenha histórica sobre o assunto, e de Duarte Encarnação, que se debruçou sobre a arte pública na Madeira.

Vítor Magalhães, docente da Universidade da Madeira, e a galerista Arlete Alves da Silva, discorrem neste momento no auditório situado no Colégio dos Jesuítas, no Funchal, sobre os temas da ficção e poder – dispositivos trans-narrativos da imagem e sobre a arte pública em Portugal, respectivamente. Arlere Silva aborda fundamentalmente esta questão desde o monumento perene à efemeridade da arte urbana.

A iniciativa pertence à agência Exit Artistas, de Luís Guilherme de Nóbrega.

A proposta artística de Patrícia Sumares é amplamente provocadora e ocupa vários corredores da antiga estrutura do vetusto edifício do Colégio dos Jesuítas. Inclui múltiplas faces realizadas em cerâmica, num trabalho titânico que durou mais de um ano e que, curiosamente, se destinam a ser destruídas pelos pés dos visitantes.

É um trabalho que questiona a natureza do poder, da efemeridade e da natureza frágil da própria existência, ao mesmo tempo que desafia as habituais percepções humanas de suposta importância pessoal num esquema cósmico no qual,  na realidade, as pretensões humanas são facilmente  reduzidas à sua insignificância.

Miguel Amado

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Habilitações Literárias

Nascido em Coimbra, em 1973, é licenciado em Sociologia, obteve o mestrado em curadoria de arte contemporânea no Royal College of Art, em Londres.

 

Experiência Profissional

Miguel Amado é comissário e crítico. É, atualmente, Senior Curator no Middlesbrough Institute of Modern Art (Middlesbrough, Inglaterra). Foi comissário na Tate St Ives (St Ives, Inglaterra) e, em Portugal, da Fundação PLMJ (Lisboa) e do Centro de Artes Visuais (Coimbra). Foi comissário do Pavilhão Português na Bienal de Veneza de 2013. Foi Curatorial Fellow na Rhizome no New Museum (Nova Iorque) e no Independent Curators International (Nova Iorque), bem como Curator-in-residence no Abrons Arts Center (Nova Iorque) e no International Studio & Curatorial Program (Nova Iorque). Foi comissário e co-comissário convidado de instituições como o Museu Colecção Berardo (Lisboa) e a apexart (Nova Iorque), bem como de eventos como a Frieze Projects na Frieze Art Fair (Londres) e o No Soul for Sale – A Festival of Independents na X Initiative (Nova Iorque) e na Tate Modern (Londres). Foi professor, organizador de simpósios, conferencista e membro de júris para instituições como o Istituto Europeo di Design (Veneza), o ARCO (Madrid), o Stedelijk Museum (Amesterdão) e a Fundación Botín (Santander, Espanha). Foi editor da revista W-Art. É crítico na revista Artforum e escreveu, ainda, para revistas como a Flash Art e a The Exhibitionist. Estudou no MA Curating Contemporary Art do Royal College of Art (Londres) e frequenta o MRes em Curatorial/Knowledge do Goldsmiths, University of London (Londres). Outros estudos incluem a Night School, no New Museum (Nova Iorque) e o Independent Curators International Curatorial Intensive no Ullens Center for Contemporary Art (Pequim). Galardões incluem a Grant for Arts Research da Foundation for Arts Initiatives (Nova Iorque).

 

Debate: Arte Pública e Poder

Para Uma “Arte Útil”: de John Ruskin à “Viragem Social”

Esta comunicação apresenta a expressão “arte útil”, cunhada pela artista Tania Bruguera e teorizada por, entre outros, Stephen Wright. Propõe, depois, uma eventual genealogia deste conceito balizada entre o pensamento de John Ruskin e o recente movimento artístico conhecido como “viragem social”.

A “arte útil” propõe-se contrariar a visão da “arte pela arte’, entendendo a arte como ferramenta para a mudança social. Este entendimento da arte ecoa os princípios e efeitos de projetos como “The Blue House”, de Jeanne van Heeswijk, ou “Institute for Human Activities”, de Renzo Martens.

Estes projetos analisam-se à luz da “viragem social”, uma noção que descreve o retorno a uma arte socialmente “comprometida”. Por outro lado, propõe-se uma associação entre este tipo de prática e as ideias de John Ruskin, crítico inglês do século XIX que advogada o envolvimento dos artistas em atividades quotidianas.


Vítor Magalhães

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Habilitações Literárias

Doutorado em Estética e Teoria da Arte / Comunicação Audiovisual pela Universidade de Castilha-La Mancha, Faculdade de Belas Artes de Cuenca, Departamento de Arte, com a tese: Propuestas para una Poética de la Interrupción en la imagen en movimiento (2007), sob a orientação do Professor Doutor Armando Montesinos Blanco. Estadia na Hochschule für Grafik und Buchkunst, em Leipzig, Alemanha (2001), com a duração de quatro meses, na área dos novos meios (Fachclasse de MedienKunst) dirigida pelo Professor Helmut Mark. Licenciado em Artes Plásticas/Variante Pintura pela Universidade da Madeira (1999).

 

Experiência Profissional

Professor Auxiliar na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira, desenvolvendo actividade lectiva nos cursos de Arte e Multimédia e de Design, nas áreas de Ciências da Arte, Comunicação Visual e Arte. Coordenador da área de Estudos Artísticos do Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da UMa. Integra, desde 2013, a Comissão Organizadora dos Encontros Internacionais de Cinema e Território no Funchal.

 

Como artista, desenvolve actividade regular desde 2001, em diversos projectos colectivos, nas áreas de vídeo, fotografia, desenho, instalação e arte sonora. Os processos de memória; os espaços de ausência e de deriva; a acção do tempo na narrativa audiovisual; as relações entre imagem e texto e entre imagem fixa e em movimento, são alguns dos temas centrais no desenvolvimento dos projectos artísticos que tem vindo a trabalhar (http://www.v-magal.com/).

 

Debate: ARTE PÚBLICA E PODER

Ficção e Poder. Dispositivos trans-narrativos da imagem.

O cenário actual de constante impermanência e mutabilidade, reclama uma consciência reflexiva potenciada pelas formas de dilatação e de suspensão dialógica, de desvio temporal, numa aproximação em diferido à contemporaneidade. Neste sentido, podemos pensar numa noção de estrutura interruptora, enquanto dispositivo crítico-reflexivo das imagens, que usa os mecanismos narrativos para superar a lógica ilusionista e retórica destes.